2007/02/21

Signo Visual: O Grupo Mu

Toda a paisagem não está em parte nenhuma

Fernando Pessoa

Na segunda metade da década de setenta, um grupo de investigadores dinamizou novamente as questões relacionadas com a Semiótica.

Para a percepção das questões ligadas à expressão dos signos, é necessário recorrer à percepção e cruzamento de informação que nos é dada pela relação: cor, forma e textura, não esquecendo, porém, a cultura e as vivências de quem tenta percepcionar um signo, pois são também elementos fundamentais na sua relação com o objecto.

Este Grupo de investigadores faz a distinção entre signo plástico (expressão) e o signo icónico (conteúdo).


Relativamente ao primeiro signo – plástico=expressão - é a correspondência que se adquire ao nível visual de uma imagem, permitindo deste modo a sua compreensão/leitura como de uma mensagem se tratasse.


Todavia, estes investigadores, referem que são necessários reunir vários factores, por forma a reconhecer e analisar com exactidão este tipo de signo.

Quanto à estrutura interna ao signo plástico, o Grupo Mu recorre à tríade:

» Substância

» Forma

» Matéria


Para uma análise correcta e, sobretudo, coerente sobre este signo, que não é fácil a sua distinção, deverá ser muito bem conjugada com os seguintes factores:


* Cores/Tonalidades/Contrastes


* Formas (círculos, triângulos, quadrados…) e, também pontos, linhas, superfícies, entre outras.










*Composições/Espaço

>dimensão (grande/pequeno)

>posição (acima/abaixo, esquerda/direita) e a

>orientação (para cima/para baixo, longe/perto)























>Texturas (liso/áspero, grosso/fino, entrelaçado, entre outros)




Relativamente ao signo icónico, o Groupe µ (1993), defendeu que o mesmo é resultante da relação triádica - significante, tipo e referente - desenvolvendo-se relações binárias nos dois sentidos (p.121).

Entende-se por:

Referente – é um designatum actualizado, é o objecto como membro de uma classe, tem características físicas, resultante de uma soma organizada de estímulos, pode ser ou não real (ibid p.121);

Significante – é o conjunto modelizado de estímulos visuais coorespondendo a um tipo estável, identificado graças a traços do significante e que pode ser associado a um referente reconhecido como hipótese do tipo; tem com o referente relações de transformação (ibid p. 122);

Tipo – é um modelo interiorizado e estabilizado que confrontado com o produto da percepção, está na base do cognitivo. É a relação global entre a igualdade/semelhança entre o referente e o significante.

As transformações são operações que tratam de de um leque de propriedades espaciais atribuídas ao Referente

A recepção de signos icónicos, identifica um estímulo visual como procedendo de um referente que lhe corresponde através de transformações adequadas, nomeadamente formas, linhas e cores.

Ao vaguear pela imagem, o olhar vai estabelecendo relações entre os diferentes elementos que a compõem, através de uma leitura circular, onde cada signo influencia o significado do outro.

Assim sendo e relembrando o início do Tratado del Signo Visual (IV capítulo), outros investigadores estudaram esta ciência – Semiótica - concretamente pelo signo atrás referenciado – signo icónico:

* Peirce, liga o signo ao pensamento filosófico. Tem uma tripla relação - primeiridade, secundidade e terceiridade. Classifica-o por três categorias – ícone, índice e símbolo.

* Morris, confere as mesmas propriedades que lhe é denotado, (objecto real existente), mediante alguns pontos de vista

* Ruesh e Klees, atribuem ao signo, um conjunto de símbolos que pelas suas proporções e relações, são semelhantes ao objecto, à ideia e ao acontecimento que representam

* Umberto Eco, refere que este signo constrói um modelo de relações- fenómenos gráficos – homólogo ao modelo de relações perceptiva , que se constroi ao conhecer e/ou recordar o objecto. É todo aquele que nos parece reproduzir algumas propriedades do objecto representado.

* Nelson Goodman, distingue a noção de iconicidade em duas relações distintas, ou seja, semelhante e representação. Estas relações tem propriedades lógicas diferenciadas.

Em suma, como Jeanne Martinet (1974:68) diz, o signo icónico não indica, mas apresenta; não relata, mas participa; não nomeia, mas revela.

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Bibliografia

GROUPE U (1993) Tratado del Signo Visual, Madrid: Cátedra
Martinet, Jeanne (1974) Chaves para a Semiologia, Lisboa: Publicações D. Quixote

2007/02/20

Semiótica das Representações Visuais

Reflexão sobre o Signo segundo Charles Peirce


Charles Sanders Peirce, filho de um professor de matemática, nasceu em 1839 em Cambridge no Estado Americano de Massachussets e recebeu formação na Universidade de Havard.


Durante 30 anos esteve ligado à United States Coast Survey, trabalhou em actividades do campo geodésico e astronómico e foi professor de lógica na Universidade de Johns Hopkins. Estudioso da obra de Kant e Hegel e admirador da filosofia de John Scotus, foi autor de várias contribuições nas áreas da astronomia, lógica e da matemática.

Faleceu no ano de 1914 em Milford, na Pensilvânia.

Peirce é considerado, pela maior parte dos historiadores da filosofia, como o mais original pensador da América do Norte, causando profundas influências em alguns pensadores da época, entre eles John Dawey, Josiah Royce e Wiliam James. Com Wiliam James, Peirce foi um dos fundadores do Pragmatismo - o mundo é o resultado da relação entre fenómenos, todas e quaisquer explicações se devem procurar e encontrar no uso da experiência.

Mas, sobretudo, Charles Peirce foi um dos fundadores da Semiótica, ou melhor, é considerado o criador moderno da Semiótica, tal e qual como hoje a conhecemos. Foi contemporâneo do linguísta suíço Ferdinand Saussure.


A Semiótica é a ciência que tem como fim o estudo de todas as linguagens possíveis e a integração dessas com o homem e o seu meio envolvente.


Para Peirce, tudo no mundo é signo, desde os seres humanos, aos objectos e às ideias.



Este filósofo classifica o Signo em três categorias "Modelo Triádico":
  • Primeiridade - a primeira impressão ao contacto com o signo, a experiencia imedita;

  • Secundidade -capacidade de distinguir, a reacção imediata;

  • Terceiridade - capacidade de organizar factos, o pensamento mediativo.

Peirce produziu três tipos de signo:

  • Ícone, o signo assemelha-se ao seu objecto, substitui-o. Exemplo de uma fotografia de alguém ou o desenho de uma árvore que representa a árvore real (desenhos figurativos), as imitações.

  • Índice, há uma ligação directa entre signo e objecto, a autenticidade. Exemplo: o fumo face ao fogo, o relógio que nos indica as horas, a baixa pressão no barómetro que indica a vinda de dias chuvosos, os talheres para restaurante.


  • Símbolo, não há relação ou semelhança entre signo e objecto, mas réplica ou materialização. É arbitrário. Um conceito diferente ao de Saussure. Exemplo: a Cruz Vermelha, os sinais de trânsito, as palavras e as frases.

Charles Peirce remete-nos para um leque vastissimo de interpretações, tudo dependente do que o interpretante possa por sua vez analisar e/ou interpretar levando por sua vez a outros signos e objectos.






Um signo é algo que representa algo para alguém a determinado respeito ou capacidade. Dirige-se a alguém, isto é, cria na mente dessa pessoa um signo equivalente ou, talvez mais desenvolvido. O signo que ele cria designo-o por interpretante do primeiro signo. O signo representa algo: o seu objecto (Fiske, 2005, 64)



Triade segundo o Signo de Peirce



De acordo com a Professora Alda Pereira, no seu artigo sobre Os Elementos Fundadores do Signo Visual (...) é consequência do processo aberto, criativo e ilimitado que é a Semiose (p. 17)



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Leituras e Consultas:

Fiske, John (1993) Introdução ao Estudo da Comunicação, Asa, Lisboa
Pereira, Alda, Os elementos fundadores do Signo Visual
Fonte de Imagens: http://images.google.pt